MALANDRO
Augusto C. de Lima
Não quero ouvir
Me deixe dormir, por favor
Se eu te entrego um conto inventado
Finja que crê e eu te finjo
Amor
Não vou ouvir
Salvo o silencio do meu cobertor
Sono de bom malandro é treinado
Pra ignorar o lamento e a dor
Amanhã talvez
Lá pras tentas quando eu levantar
Te libero um conselho pra dar
Janto o texto e te faço um favor
Te dou razão
Dou migalhas de mim em troca de perdão
Faço tal como fosse arrasado
Pra amanhã retornar pro meu colchão
Não vou parar
Pode inundar a favela, nem ligo
Puro castigo por querer tentar
Duelar seus desejos comigo
Não leve a mal
Sou pequeno demais pra sua pretensão
Sou humano demais pra sua doce ilusão
Veste seu fardo e me espera no portão
Pois ao chegar
Pela negra madrugada enfim
Vou lhe entregar
O tão pouco de melhor em mim
Não chamo amor
Mas o que é que se sente e se sabe?
Pois no fim desta noite, é verdade
Volto pra onde me espera a solidão
Só não me peça, então, sinceridade
Realidade faz só mesmo é ferir
Sentimento algum é livre de vaidade
Entre dizer a verdade e mentir
Há um mundo de possibilidade
Termino assim
Embalado por pranto em sono enfim
Tão certo que
Não existe vitima e algoz
Pois um se alimenta do outro
E da própria doença
Sou nego de raça, bicho solto
E não há corrente que vença
Malandro...
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