sábado, 1 de outubro de 2011

De verdade

Eu não tenho cor, senão
rosa choque a me entregar
me maldizer, caluniar
dar-me as feras no jantar
dar-lhes algo em que se erguer
e se afirmar

Eu não tenho pele, então
só o pecado a me cercar
indecente por arder
beijar, bulir, trepar
Que faço então, meu Deus?
Me ater de amar?

Eu não tenho coração
só o diabo a palpitar
me guiando à contramão
na dança proibida
pra teimar não procriar
em existência descabida

Não existe palavrão
só viado, bicha, sapatão
todo lixo assim se chama
por quem os odeia, e por quem os "ama"
mas a graça aí está
Se crescer em humilhar

Eu não sou aberração
só um clichê a delirar
buscar normalidade e respeito
onde a moral diz que não há
serei então piada, alienação, pornografia
pra atender aos tolerantes
e a vã filosofia

Eu não tenho educação
sou um tolo a deslumbrar
alguma naturalidade
em todo ser e estar
meu discurso impertinente
incomoda só a quem mente
mas como eu
se sente

Eu não tenho inspiração
pra alongar este lamento
talvez nunca tenha tido
na angústia, apenas tento
expressar um sentimento
de quem vive em prisão
aos olhos dos outros
e do próprio coração

Assim faço por vontade
que se tenha algum dia
realmente liberdade
para ser o que se é
preconceito com a mentira
sem medo do ser
viver
de verdade